Não sabes ... mas vais ficar a saber

Nunca me esqueci desse maldito dia. Eram por volta das 10h da manhã, o meu pai chegou na sua mota com uma cara abatida e triste, vinha com ar de quem não pregou olho, e por incrível que pareça disse me estas palavras "a mamã está no céu a olhar por ti" - não estava a espera, não sabia que o meu pai podia ser carinhoso e amoroso comigo, nunca o tinha sido. Logo a seguir enfiou-se em casa e o Manuel foi atrás dele, para o poder consular, penso eu. A Júlia levou-me até ao meu quarto, ou o quarto de hospedes na casa deles, e leu-me uma história, a História dos Anjos. 
Estava quase na hora de almoço, e o Manuel ainda não tinha voltado da casa do meu pai. A Julia continuava a meu lado, a pentear os meus longos cabelos ruivos. Naquele momento não conseguia bem perceber o que me rodeava, o que se estava a passar. Não conseguia entender o que o meu pai queria dizer com "a mamã está no céu", será que tinha ido fazer uma viagem naqueles aparelhos gigantes que voam no céu? será que tinha ido viver sem mim para o céu, numa casa de nuvens? Pois, foi viver sem mim, porque morreu, já não a ia ver nunca mais, já não ia ver os seus cabelos encaracolados a cair-lhe pelos ombros, o seu avental que guardava sempre um bom bom para mim ao Domingo, os seus olhos brilhantes mas carregados de tristeza, sem eu saber o porque, e nunca mais veria a sua mão ...
 
O meu pai e o Manuel voltaram mesmo quando a Júlia estava a por a mesa, mas estava a por para quatro? O meu pai também vinha? Pelos vistos sim, vinha comer a sopa de cenoura da Júlia. O meu pai estava mais abatido do que o costume, tinha os olhos vermelhos e as faces rosadas, mas não associei aquilo ao vinho, mas sim à minha mãe, à ida dela para o céu ... 
Fiquei os dias seguintes em casa do Manuel. A Júlia tinha ido visitar a mãe a uma aldeia próxima, mas ia ficar com o Manuel.
No ultimo dia aconteceu uma coisa ... estranha ... 

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